Mulheres na Guerra, Mulheres em Guerra!


        



        Inspirado na crítica social do livro de Svetlana Aleksiévitch, A guerra não tem rosto de mulher, a face feminina na guerra é sumariamente apagada, não lhe é dada a devida importância, elas estiveram na guerra, porém se encontram em guerra na afirmação como agentes históricas. Narrar a guerra sob uma perspectiva de gênero, é, sobretudo, observar a guerra como uma política de gênero. Momentos de tensões são momentos de transformações, atuam na construção de identidades de caráter sexual. 

        Muitas biografias foram elaboradas com o intuito de despertar o patriotismo entre os brasileiros, a fim de construir imagens positivas e harmoniosas, na construção de “heróis” e “heroínas”, mitos nacionais, na manifestação de sua glória e de uma propaganda nacionalista. Em épocas de conflitos tensos, algumas figuras femininas são utilizadas de forma representativa em nome da pátria, são heroínas que morrem e se sacrificam por amor a ela. As mulheres se fazem presente em todas as guerras, seja na retaguarda ou no front contrariando a ordem “natural”, rezando ou cuidando dos feridos, como também no deleite dos soldados ávidos pela morte, mas que procuram instantes de felicidade e satisfação. Não há guerra sem mulheres, embora nas sombras e se infiltrando pelas brechas que lhes são concedidas, elas permanecem e se fazem presente.

        Ver a imagem da mulher como um soldado era incompatível, o apoio dado a elas as lutas nacionais tomou em outras formas, que fossem mais “toleráveis”. Os hospitais foi o lugar onde houve uma valorização do trabalho feminino ao serviço da pátria. Nas guerras as relações entre ambos os sexos nem na teoria e nem na prática mudam profundamente, gerando assim efeitos variados e opostos. As guerras interrompem ou freiam as evoluções que se iniciam antes delas. A guerra é conservadora, recoloca cada sexo em seu lugar, o corpo possui uma história, a ele é dado uma representação e lugar de poder. E a identidade que lhes é conferida não é causa, mas efeito de exposição de diferença cultural. As guerras são uma oportunidade de mobilização identitária, não reforça uma condição de igualdade, define papéis, restabelece a ordem “natural” do mundo.



REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALEKSIÉVITCH, S. A guerra não tem rosto de mulher. 9. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2016a.
HABNER, J. E.  Imagens e representações 1: a era dos modelos rígidos. Nova História das mulheres no Brasil. Org: PEDRO, J . M; PINSKY, C. B. 1 ed. São Paulo: Contexto, 2013. p. 469-513.
PEDRO, J. M. As guerras na transformação das relações de gênero: entrevista com Luc Cápdevila. Estudos Feministas, Florianópolis, 13(1): 216, janeiro-abril/2005, p. 86.
PERROT, Michelle. As mulheres ou os silêncios da história. Bauru: Edusc, 2005. 520p.
________________Os excluídos da história: operários, mulheres e prisioneiros. Tradução: BOTTMANN, D. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1998, p. 179
QUÉTEL, C. Mulheres na Guerra – volume 1. 1ª ed. São Paulo: LAROUSSE, 2009.
VILLANUEVA, C. F.  A participação das mulheres nas guerras e a violência política. Violências esculpidas. Org: JONAS, E. Editora: UCG.

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